Treinamento de segurança nos condomínios: atenção e ação na medida certa
Cercas,
câmeras, alarmes, blindagem, sensores, monitoramento. A tecnologia
avança a passos largos, com sistemas que contribuem para a segurança dos
condomínios. No entanto, nada disso tem efeito se não houver o
principal: funcionários e moradores devidamente treinados para lidar com
os equipamentos e adotar condutas preventivas no dia a dia. Tanto é
verdade que a maioria dos arrastões que aconteceram em São Paulo este
ano foi decorrência de falha humana. Os meliantes sabem que existe uma
fragilidade nesse aspecto e contam com ela nas suas ações, adotando as
mais variadas formas de ludibriar e render porteiros.
Depois que acontece, não adianta culpar o funcionário. "Reclama-se
que o porteiro age errado, mas ninguém ensinou para ele como proceder",
afirma o consultor em segurança Nilton Migdal. Ele destaca a importância
de se investir na seleção e treinamento do funcionário e, ainda, contar
com normas e procedimentos de segurança escritos num manual a ser
seguido por todos do condomínio. "Dos 150 empreendimentos onde já atuei,
apenas quatro deles tinham normas escritas e somente um único as tinha
implantado de fato", revela.
De acordo com João Palhuca, vice-presidente do Sesvesp (Sindicato das
Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de
Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo), tão fundamental
quanto treinar funcionários é orientar moradores. "Os condôminos, na
maioria dos casos, são os maiores responsáveis pela ineficiência do
sistema. Eles não cumprem regras, não tratam os profissionais com
respeito, desenvolvem relações inadequadas com a equipe de proteção e
isso cria um clima de desobediência ao programa de segurança", aponta.
Um exemplo clássico é a falta de atenção do morador em comunicar a
portaria sobre a contratação e demissão de funcionários, como faxineira e
babá, bem como avisar sobre visitas de amigos e parentes. "Não adianta o
morador ficar furioso se o porteiro não deixar sua mãe que mora em
outro Estado entrar no prédio, pois ele não foi informado e a pessoa não
está cadastrada", afirma Migdal.
Vale lembrar que o treinamento sozinho também não basta, é preciso
seguir outros passos importantes, segundo os especialistas, até para dar
respaldo à ação dos porteiros:
> Criar conselho de segurança no edifício:
Migdal orienta a formação de um conselho com até quatro pessoas, que
irão se dedicar a pensar na segurança do condomínio. "A comissão deve
ter poder de decisão em nome de todos, senão os processos ficam muito
lentos", sugere.
> Criar normas e procedimentos: é
indicado o apoio de um consultor para fazer o diagnóstico da segurança
no condomínio, recomendar medidas e ajudar na elaboração de normas
internas, com penalidades para quem não cumpri-las. O consultor
geralmente dá palestras de orientação e sensibilização para funcionários
e moradores.
> Selecionar funcionários: não
adianta economizar e contratar pessoas com grau de instrução muito
baixo, segundo Palhuca. O profissional precisa ser "treinável", capaz de
fazer cadastro de visitantes, tomar decisões e seguir procedimentos.
Migdal orienta que se avalie com atenção a remuneração e os benefícios
dos porteiros. Para ter um profissional mais preparado e satisfeito, é
preciso remunerá-lo adequadamente e oferecer boas condições de trabalho.
> Currículo do treinamento: este
depende das necessidades do condomínio e um consultor poderá ajudar a
identificá-las, definir o conteúdo, aplicar o treinamento e avaliar se
foi devidamente assimilado. Segundo Palhuca, os programas são diferentes
de acordo com as características do empreendimento, inclusive
localização, número de torres e apartamentos. Já Migdal recomenda que o
treinamento aconteça no local de trabalho (fora do expediente, contando
como hora extra) e inclua o uso de equipamentos, cumprimento de normas e
procedimentos, e segurança da informação. "Treinamento não engloba só
abertura de porta, mas percepção, observação de suspeito, identificação
de truques, condutas em situações diversas e resguardo de informações de
dentro do prédio", explica.
> Treinar o condômino: o
treinamento de moradores deve focar na orientação para o cumprimento das
normas. Eles precisam entender que se resolveram morar em condomínio
terão de acatar as regras e sofrer penalidades se as descumprirem.
> Investir em reciclagem: os
criminosos estão sempre mudando de tática e a equipe de segurança não
pode se acomodar. Os especialistas orientam treinar sempre os novos
funcionários e, mesmo que a equipe se mantenha fixa, promover reciclagem
a cada seis meses.
> Testar a segurança: é indicado
fazer simulações periódicas de tentativa de intrusão no condomínio para
testar a equipe e o sistema. "O objetivo é valorizar quem age bem e
corrigir eventuais falhas, sem retaliações ou demissões", explica
Migdal.
SÍNDICOS MAIS CONSCIENTES
Cumprindo o segundo mandato no Residencial Ilha de Boaçava, São
Paulo, o síndico Sílvio Timóteo passou a se preocupar mais com segurança
após a recente onda de arrastões. Participou do "1º Curso de
Treinamento em Segurança" com Luís Renato Mendonça Davini, promovido
pelo
Grupo Direcional, e vem tomando medidas preventivas, ainda que nunca tenha havido uma ocorrência.
"Decidi proteger ao máximo meu porteiro como último elo a ser
quebrado para a invasão. Iniciei reforma na cabine, mandei fazer outra
porta, coloquei vidros blindados e ar-condicionado. Implantei um
trabalho de conscientização de funcionários e moradores através de
informativos e já observo resultados", revela. Os próximos passos serão
contratar uma empresa de monitoramento 24 horas e criar um manual de
procedimentos. Porém, ele sabe que não é fácil mexer com costumes e já
enfrentou algumas resistências. "Teve morador que disse: 'eu vivo aqui
há 20 anos e nunca aconteceu nada'. E eu falei: então porque nunca furou
o pneu você vai andar sem estepe no carro?".
Já a síndica e administradora Carmen Mendes Pagan cuida pessoalmente
do treinamento de seis funcionários do Edifício Itororó, na Bela Vista. O
condomínio tem 160 unidades, conta com sistema de segurança e
regulamento geral. A síndica também esteve presente no 1º Curso de
Treinamento da Direcional, acompanhando parte de sua equipe.
Por Lília Rebello